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Exposição Individual

Rios Voadores

Integrante da 3ª Temporada de Exposições 2022 - Sala Roy Kellermann

Endereço

Rua XV de Novembro, 161 - Centro, Blumenau - SC, Brasil

Data

07 de julho a 24 de agosto 2022

Local

MAB - Museu de Arte de Blumenau

Horários de visitação

Colab

"A amplitude guarda em si um aspecto do invisível. Grandes tamanhos, longos períodos, complexidades profundas, escapam à compreensão humana, revelando-se apenas à distância, com o passar do tempo, ou a mentes com capacidades coronárias."

Por Julio Refosco


Rios voadores é o nome dado a um fenômeno meteorológico que foge à nossa percepção direta. O próprio nome já faz pensar – Rios Voadores?


Relacionando com uma coisa perceptível nossa conhecida, os rios, expandimos a percepção para este fenômeno descoberto recentemente pela ciência e que, apesar da grande importância que tem para nossas vidas, é ainda pouco conhecido, e, pior, é ameaçado pelo nosso modo atual de ser.


Rios Voadores são fluxos de água que se deslocam de um lugar para outro na atmosfera. Mas tem água na atmosfera? Sim. O ar atmosférico pode conter água em até 4% do seu volume.


Água no estado gasoso, é a chamada umidade atmosférica. É por estar no estado gasoso que não vemos esta água e, adivinha, é esta água em estado gasoso que possibilita a organização das nuvens e a chuva, assim como muitos outros fenômenos meteorológicos.


As nuvens, só pra constar, são formadas por água já em formato líquido, pequenas gotinhas que caem em forma de chuva quando seu peso fica maior que a força que as mantém em sustentação.


E como a água vai parar na atmosfera?

Os estoques de água se distribuem entre continentes, mares e na atmosfera e circula entre eles no movimento que chamamos de ciclo hidrológico.


Dois fenômenos contribuem para que a água vá para a atmosfera: a evaporação e a transpiração. A transpiração tem grande participação das florestas, é um fenômeno no qual as plantas transpiram água em formato de vapor.


Os arranjos da atmosfera são o resultado de uma longa evolução. Evidências mostram que os componentes bióticos não foram somente resultantes de um ambiente preexistente, mas sim que atuaram ativamente para criar a biosfera, que podemos chamar de nossa casa, a que nem sempre estamos dando o devido cuidado, diga-se de passagem.


Neste processo evolutivo a vegetação, especialmente este conjunto de vida a que chamamos floresta, teve papel fundamental. E como se sabe, a América do Sul tem um fantástico conjunto de ecossistemas, biomas, e diversidade biológica.


Mas e os Rios Voadores?

Os rios voadores são, então, este enorme volume de água que evaporou de rios, lagos e mares, e da transpiração dos seres vivos, especialmente do conjunto das plantas das florestas, que uma vez na atmosfera, sob formato gasoso e líquido forma fluxos que seguem uma distribuição geográfica, os padrões de ventos, deslocamento de massas de ar, aquecimento, condicionadas pelos padrões de relevo e pela cobertura dos solos.


A transpiração é maior, quando há maior metabolismo e maior biomassa. Como se sabe as florestas tropicais tem altas taxas de crescimento, biomassa e diversidade, e vem daí a capacidade que estas florestas têm de enviar para a atmosfera quantidades impressionantes de água, de recircular esta água, de alimentar processos ecológicos em diferentes regiões geográficas, reforçando a integração da vida na biosfera.


A organização, o ordenamento, a repetição de padrões e a escala dos fenômenos, tanto os grandes quanto os microscópicos, impressiona. O tempo, o clima, os fenômenos meteorológicos tem especialmente esta qualidade de impactar nossa percepção limitada, que não chega a uma compreensão completa de muitos deles.


GLOSSÁRIO


Ciclo Hidrológico

Ciclo biogeoquímico que ocorre na biosfera, no qual a água se move entre os oceanos a atmosfera e os continentes, influenciada pela energia solar.


Componentes Bióticos

Nome dado aos seres vivos e matéria orgânica deles decorrente, quando considerados na composição de ecossistemas.


Biosfera

Parte do planeta Terra que contém vida e que tem, aproximadamente, 20km de espessura.


Biomassa

Matéria orgânica, de origem vegetal ou animal. Matéria da qual são compostos os seres vivos.


Metabolismo

Conjunto das reações químicos que ocorrem num organismo vivo.


Informe Técnico

Por Cássia Pérez


O tempo e o invisível, dois conceitos que muito se aproximam devido à falta de clareza que temos deles. O tempo só é percebido uma vez que ele passa, em que ele se torna um feito ocorrido e finalizado. O invisível só é percebido quando se torna visível, portanto completamente modificado de seu estado original. Os Rios Voadores também entram nessa contradição. São voadores, mas, não da maneira que imaginamos prontamente. Se encontram no mais profundo solo em que a humanidade se estabelece, não conhecem fronteiras, não são adeptos a políticas ou a qualquer restrição moral que possa existir para a vida em cima deles. Integram biomas e as mais diversas geografias, tornando-se responsáveis pela distribuição de água pelo planeta. São voadores ao atingir árvores, nuvens e se deslocarem por todo o planeta, são tão invisíveis e ao mesmo tempo tão visíveis e óbvios que nos passa desapercebido muitas vezes.


Mas o tempo trouxe junto o entendimento, que trouxe como consequência o poder humano sobre as camadas do mundo. Cada vez mais o ser humano passou a interferir nessa força da natureza que deveria ser invisível e onipresente, intocada. Inventamos um projeto predatório que altera a velocidade do tempo, torna visível qualquer invisibilidade, aproxima os voos que deveriam ser distantes.


Celaine Refosco nos leva a refletir sobre essas interferências que não medem consequência. Sobre modificar o tempo, o invisível, o voador. Nos apresenta pinturas que nos dão a impressão de estarmos nós voando. O invisível na verdade é o espectador, a artista escancara a natureza, formas e cores que nos deixam sem clareza sobre a narrativa específica.


Nos convidou a refletir: porque insistimos em trazer à tona o invisível, a mudar o curso do tempo, a cortar o voo do que nos mantém vivos? Somos tão frágeis quanto o que alteramos, criamos fraturas no externo que fraturam nosso interno. Imaginamos que somos capazes de voar, mas a verdade é que estivemos o tempo todo buscando o objetivo no lugar errado.


Não necessariamente está no que vislumbramos do desconhecido, da sede de fazer ele se revelar, mas no invisível que esteve aqui conosco o tempo todo, nos mantendo vivos enquanto nós nos esforçávamos para exterminá-lo.


Texto Curatorial

Por Celaine Refosco


A exposição RIOS VOADORES é constituída de três conjuntos de trabalhos, que falam sobre a mesma questão de perspectivas diferentes, opostas mesmo.


Um dos grupos fala do fenômeno Rios Voadores e da alegria em descobri-lo, sabe-lo ativo e nominado, imaginar-lhe a complexidade e o poder, vislumbra a vastidão da vida e o equilíbrio construído ao longo de tempos indizíveis, atuando sobre nós. É um conjunto de telas pintadas a óleo, em formatos grandes, expostas contra paredes, que apresenta percepções da artista como se fossem fragmentos de cenas, visões de um pássaro, entendimentos de peixes, caminhos de águas, vapores e cachoeiras.

O outro, é a face decepcionada, um conjunto de desenhos a carvão e pinturas em tinta acrílica sobre tule, que traz através da atitude colocar atenção nos problemas, o impacto de VER ATRAVÉS, e descobrir as consequências da insanidade humana sobre a perfeição do planeta terra. São ‘laminas’ de tule, desenhados e pintados, expostos em grupos e suspensas a partir do teto. Formam blocos tridimensionais e convidam o observador a alhar através deles, outros desenhos, outras pinturas, o outro lado da sala, o lado de lá, mais além, como se, de alguma forma milagrosa, exercitar o olhar através da arte, pudesse, construir lucidez na mente e no coração de quem vê.


O terceiro grupo é formado por telas de pequeno formato, chamadas TERRA NUA, pintadas com óleo e encáustica, e falam em voz cava, sobre destruição.


A exposição

Por Celaine Refosco


Também são menos perceptíveis processos que ocorrem em lentidão, como o crescimento vegetal, especialmente das árvores e florestas. Ainda, o que acontece serenamente e de maneira integrada, é pouco visível aos olhos humanos.


Especialmente aos humanos que somos, habitantes de um mundo velho e decadente, que rompeu gravemente o equilíbrio fundados entre objetividade e subjetividade. Percebemos pouco, entendemos parcialmente, intuímos mal, ou nem intuímos mais, desequilibrados, confusos, equivocados.


Rios Voadores são sistemas de distribuição de água através do planeta. São invisíveis e indizíveis de tão amplos, complexos, sutis e suaves. Invisíveis na constância de sua presença e na eficiência de seus resultados na manutenção confortável da vida. Causam a impressão de que nada acontece, justamente porque sempre acontecem. Até que se rompem, ou melhor, são rompidos, e aí sim, começamos a dar-nos conta, através de não mais ser como sempre foi, de que de fato eram.


São operações imensas que integram biomas e acidentes geográficos e operam como sistemas climáticos interconectados. Intuídos pelos povos originários desde sempre, entendidos e pesquisados pela ciência há pouco tempo.


Um destes sistemas integrados, talvez justamente o que tenha cunhado o conceito, opera na América Latina, distribuindo águas do Amazonas ao longo de toda a Cordilheira dos Andes, até o extremo sul do continente. Não reconhece fronteiras geográficas, logicamente, recebe do Deserto do Saara, através dos ventos que atravessam o atlântico, partículas de matéria que nutrem a floresta e integram a força vitalizante das árvores, que circulam através de si mesmas, elevando-as do solo ao céu sob forma de vapor.


Ironicamente começamos a entender o grandioso funcionamento da cadeia nutritiva a que chamamos vida, justamente quando, por nossa intervenção ignorante e continuada, ela começa a apresentar falhas e rupturas, e já não temos mais a distribuição de chuvas, temperaturas, estações do ano como quando em equilíbrio.


Perder os Rios Voadores será sem dúvida a forma mais dolorosa de darmo-nos conta da integração entre os mais diversos elementos do planeta terra. Faz parte do projeto predatório, chamado capitalismo, que não reconheçamos a vida na plenitude de sua potência e interligação. Nós, como humanos desconectados, preferimos ver e reconhecer a desconexão, desta forma, seguir sem pensar na realidade dos caminhos tortuosos que inventamos, é mais possível.



Apresentação do Tema

Colab

Imagens

Ana Paula Caciano

Outras exposições

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