Celaine Refosco é a artista premiada na 10a Edição do Prêmio AF de Arte Contemporânea
Exposição Aliança Francesa de Arte Contemporânea
por Fran Favero
Celaine Refosco, nascida em 1961, é artista visual e vive e trabalha em Pomerode, SC.
Fez carreira na indústria têxtil e na educação, experiências que impactam a sua produção e sua poética. Iniciou sua carreira artística na década de 1980, quando ganhou o prêmio de primeiro lugar em Pintura no II Salão de Artes Plásticas da FURB, em Blumenau, SC (1981).
Desde então, realizou diversas exposições em museus, galerias, espaços independentes, com destaque para as mostras individuais: “Rios Voadores”, que fez itinerância no Museu de Arte de Blumenau (2022) e no Museu Guido Viaro (2023) em Curitiba, e “Sobre as coisas que não entendemos bem”, que ocorreu no Instituto Internacional Juarez Machado (2022), em Joinville, SC.
Entre as suas exposições coletivas, estão: “Perspectiva 2006 - Coletiva de Artes Plásticas de Jaraguá do Sul e Região”, em Jaguará do Sul, SC (2006); “Reencontros”, no Museu Municipal de Arte - MuMa de Curitiba, PR (2022) e “Impossibilidade de Esgotamento”, no Centro Cultural Veras, em Florianópolis, SC (2023).
“Meu trabalho em arte está mais baseado na emoção e na ação do que no pensamento.
O trabalho tem uma grande influência sobre mim: não costumo ter expectativas, ao começar algo, de que se conclua de maneira determinada; me interessa mais o processo em que estou imersa no momento, no que a materialidade que experimento tem a me ensinar, do que em um resultado imaginado previamente.
Dessa forma, encontro coisas surpreendentes, muito diversas entre si. O que aparentemente
poderia ser um problema, de falta de definição ou de coerência, mas não vejo assim, minha coerência está na experiência.
Isso pode ser definido como sensibilidade, que aqui significa aceitar o pouco controle que temos sobre as situações da vida, do quão grande deve ser a disposição para aprender e vislumbrar o que é possível, o que é diferente, e me levar a entender como me sinto frente a isso.
As descobertas muitas vezes são minúsculas, só minhas, sem que ninguém nem mesmo as perceba, ou nomeie como descobertas, mas para mim, podem ter muita significância no que se refere à pintura. O comportamento dos materiais me remete aos relacionamentos que ocorrem em todos os cantos do cosmos.”
Fran Favero
Curadora
O Prêmio AF de Arte Contemporânea, ao longo de seus dez anos de existência, se estabeleceu como uma das principais iniciativas para reconhecimento e valorização da prolífica produção artística contemporânea de Santa Catarina. A premiação, em seu formato atual, oportuniza a participação de portfólios, com o objetivo de selecionar, a cada edição, três artistas finalistas, além de anunciar a proposta vencedora que recebe o prêmio de residência artística na Cité Internationale des Arts em Paris.
Nesta edição, de maneira inédita, foram selecionadas como finalistas três artistas mulheres: Celaine Refosco, de Pomerode, Camila Martins, natural de Florianópolis e Dariane Martiól, paranaense radicada em Florianópolis. Esse fato atesta a relevância de mulheres artistas para a cena contemporânea, colocando em primeiro plano seus pontos de vista e produções artísticas. É importante reforçar, no entanto, a singularidade dos processos das três artistas em exposição, cada qual com sua trajetória e investigação poética. A atuação das finalistas mobiliza o contexto catarinense, mas encontra igualmente interlocução crescente no âmbito nacional, por meio de circulação em exposições, residências artísticas e contextos acadêmicos.
A mostra se organiza em três eixos, a fim de apresentar um recorte curatorial da produção de cada artista, com destaque para as pinturas e instalações de Celaine Refosco, as esculturas cerâmicas de Camila Martins e as fotoperformances de Dariane Martiól. Neste percurso, textos e falas das artistas abrem caminho para suas obras, uma proposta da curadoria da última edição que é mantida na atual, como uma forma de aproximação com o processo de pensamento e produção de cada uma das artistas e da complexidade envolvida em proposições artísticas que ativam conexões entre conceito, materialidade e vivência, em um movimento interdependente.
O trabalho de Celaine Refosco é apresentado em dois blocos: suas pinturas ocupam as paredes, enquanto as instalações estão posicionadas no vão central do espaço expositivo. Há características comuns entre as propostas, tanto no uso do grande formato, que convida à imersão, quanto no emprego de camadas, seja de tinta ou de tecido. O jogo entre o opaco e o translúcido, entre tornar nítida a figuração e lançar-se à abstração é uma tensão constante. O movimento por entre as obras também nos envolve neste gesto de montagem e desmontagem, em uma experiência que se renova a cada novo posicionamento do corpo e do olhar. A artista propõe uma abordagem singular na relação entre pintura e arte têxtil, ao reconhecer a importância tanto da cor quanto da materialidade do tecido como bases da pintura, características que se expandem nas instalações.
As cerâmicas de Camila Martins brotam das paredes e se estendem para o espaço, explodindo em cores vibrantes e formatos inauditos. A passagem do tempo é o fio condutor de sua produção, o que está evidente tanto conceitualmente quanto na própria materialidade de suas esculturas cerâmicas. As obras Início. Meio e Fim e Eva mitocondrial, instaladas na parede, afirmam a noção de criação e nascimento, de onde irradiam múltiplas e variadas criaturas que habitam a exposição. O mar como lugar de origem é crucial para a poética da artista da Ilha de Santa Catarina, com destaque para a praia dos Ingleses, de onde coleta areia que passa a integrar suas obras. A organização espacial dos trabalhos propõe aos visitantes a experimentação de outros ângulos, encontrando novos e minuciosos detalhes.
Em suas obras, Dariane Martiól com frequência performa ao lado de sua mãe, Adair Martiól, que passa a se reconhecer e produzir como artista a partir da atuação conjunta com a filha. De fato, nesta mostra estão expostas obras de ambas, tanto produções individuais quanto em coautoria. A relação com a mãe é um ponto de partida para questionamentos disparados por seus trabalhos que são, em última instância, preocupações fundantes da própria condição humana, como a fragilidade da vida e do corpo e as assimetrias e complexidades que envolvem as questões de gênero e as relações familiares. A centralidade do corpo, a oposição entre vida e morte e a relação entre manual e artificial são elementos acionados tanto na performatividade quanto na escolha dos materiais, incluindo o contraste do emprego do crochê em imagens geradas por inteligência artificial.
A proposta deste percurso é dupla: um mergulho nos processos individuais, ao mesmo tempo que encontros e confrontos se desenham ao percorrer a exposição como um todo. A premiação coloca em evidência e convida, por meio desta mostra, uma aproximação com a obra de artistas relevantes para o cenário contemporâneo catarinense, celebrando suas trajetórias e densos processos artísticos.
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